Idosa de 87 anos é a última Agricultora Imigrante Japonesa de 1953 ainda em atividade no Amapá

“Viemos em razão do sofrimento vivido durante a Segunda Guerra Mundial, sem ter o que comer, nós comíamos o capim, chegamos ao ponto que nem raiz do capim tinha mais. Lá onde a bomba caiu a terra não prestava, passamos 4 anos sem ter alimentos para comer”

No cenário da agricultura, uma figura se destaca pela sua resiliência e dedicação: Sadako Koga Meguro, a última agricultora imigrante japonesa de 1953 ainda em plena atividade.

No início do século XX, os japoneses foram atraídos para a região amazônica devido a oportunidades de trabalho na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, durante o auge da exploração da borracha na região, o que resultou em negociações entre os governos e representantes japoneses. A inserção desses imigrantes japoneses na Amazônia também estava relacionada à concepção do modelo de ocupação da região, fundamentada em razões estratégicas de natureza geopolítica do Governo Federal.

Sadako Koga Meguro, última moradora da colônia de imigrantes japonesa em extinção no matapi (Porto Grande-Amapá)

“Eu vim da região de Kyushu, da cidade de Fukuoka-Japão, com 16 anos, éramos 8 irmãos e meus pais. Viemos em razão do sofrimento vivido durante a Segunda Guerra Mundial, sem ter o que comer, nós comíamos o capim, chegamos ao ponto que nem raiz do capim tinha mais. Lá onde a bomba caiu a terra não prestava, passamos 4 anos sem ter alimentos para comer. O navio Áfrika Maru partiu de Fukuoka em 27 de julho de 1953, levamos 47 dias para chegar no Brasil. Com a promessa do governo da época, viemos para plantar seringueiras, umas árvores que levaram pelo menos 8 anos para crescer. Para diminuir o gasto na família, eu tive que casar aos 17 anos e meus irmãos foram para outros estados (São Paulo e Rio de Janeiro) em busca de estudo”, diz Sadako.

Família Meguro, antes da vinda ao Brasil. Foto acervo pessoal Keiko Meguro

A chegada dos japoneses no Amapá foi marcada pela colonização iniciada em 1953. A primeira leva de imigrantes japoneses chegou ao Amapá em 1953, composta por 177 pessoas, destinadas às colônias de Matapi e Fazendinha para o plantio de seringueiras e hortaliças. No ano seguinte, em 1954, chegou a segunda leva com 123 pessoas em 21 famílias, também destinadas às mesmas colônias. A terceira e última leva ocorreu em 1957, com 43 pessoas em 7 famílias, que foram encaminhadas para a colônia de Mazagão Novo, onde plantaram seringueira, cacau e arroz.

A presidente da Associação Nipo-Brasileira do Amapá, Keiko Meguro Portal, compartilha sua trajetória: “Chegamos ao Amapá em 06 de setembro de 1953, fomos transferidos do Navio Áfrika Maru para uma balsa no porto de Icoaracy (em Belém), que nos levou até o Rebocador Araguari. Naquela época, Janary Nunes já havia providenciado nosso destino, o assentamento se deu na Linha G do Matapi.”diz Keiko.

Keiko Meguro Portal chegou ao Amapá em 1953, aos 4 anos de idade

No começo do século XX, o Brasil demonstrava interesse em atrair trabalhadores imigrantes para promover seu crescimento econômico, especialmente após o término da escravidão. Nesse cenário, o governo brasileiro firmou acordos com o Japão para estimular a chegada de imigrantes japoneses.

Em 1928, os primeiros imigrantes japoneses que se estabeleciam na Amazônia, acompanharam um período de instabilidade econômica global, caracterizado pela crise de 1929 e pela grande depressão que impactou significativamente a economia mundial na década de 1930.

Imigrantes Japoneses na colônia do Matapi. Foto acervo pessoal Keiko Meguro

Rubilar da Rocha Portal, Engenheiro Agrônomo formado em 1975, foi contratado pelo primeiro serviço de assistência técnica em extensão rural do Amapá, na época do ex-território, para trabalhar com pimenta-do-reino. Ele relata as dificuldades enfrentadas pelos japoneses na adaptação à plantação de pimenta-do-reino.

Rubilar da Rocha Portal, Engenheiro Agrônomo

“Os imigrantes japoneses tiveram como objetivo inicial o plantio de seringueiras, que é uma cultura de longo prazo e devido à necessidade de diversificação, os imigrantes passaram a cultivar outros produtos, como hortaliças, mandioca e arroz, buscavam formas viáveis de sobrevivência. Apesar de introduzirem novas culturas, muitos agricultores japoneses enfrentaram desafios devido à falta de conhecimento em técnicas de cultivo, no caso da pimenta-do-reino a perda chegava a 60% da produção”, diz o agrônomo.

 

Jovens imigrantes japoneses na produção de alimentos. Foto acervo pessoal Keiko Meguro

Aos 86 anos, Sadako ainda reside na colônia de imigrantes japonesa em extinção do Matapi com sua filha Lumiko Meguro e sobrevivem  do cultivo de chicória, quiabo e cebolinha.

Hiroshi Koga
Hiroshi Koga
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Um comentário

  1. Parabéns, jornalista Hiroshi Koga, pela brilhante matéria “Idosa de 87 anos é a última Agricultora Imigrante Japonesa de 1953 ainda em atividade no Amapá”. Sua reportagem captura com sensibilidade e profundidade a incrível trajetória de Sadako Koga Meguro. Você trouxe à tona a história de uma geração que superou imensos desafios, desde a devastação da Segunda Guerra Mundial até a construção de uma nova vida no Brasil. Sua dedicação em contar essa história não só preserva a memória desses imigrantes pioneiros, mas também nos inspira a valorizar suas contribuições e resiliência. Excelente trabalho!

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